“A bastonária não serve os interesses da classe médica”

É o ponto único na assembleia convocada para daqui a um mês: a destituição da bastonária da Ordem dos Médicos de Angola. Elisa Pedro Gaspar é acusada de gestão danosa e de lidar mal com o caso Sílvio Dala.

O Conselho Regional Norte da Ordem de Médicos de Angola convocou para 17 de outubro uma assembleia geral que terá como ponto único discutir a destituição da bastonária, Elisa Pedro Gaspar.

Em comunicado, os associados manifestam o seu desagrado com o desempenho da bastonária, que se agudizou com as “recentes ocorrências graves”, como o “não alinhamento aos interesses da classe”, a “falta de transparência na gestão dos recursos da Ordem” e “denúncias de má gestão financeira”.

Na sexta-feira (11.09), o semanário angolano Novo Jornal noticiou que a bastonária é acusada de desviar 19 milhões de kwanzas (cerca de 27 mil euros), uma denúncia feita pelo seu antigo diretor de gabinete, Domingos Cristóvão.

Segundo vários órgãos de imprensa angolanos, Elisa Gaspar terá afirmado que as acusações “não correspondem à realidade”. A DW tentou em vão recolher uma reação da bastonária, que, apesar de várias tentativas de contacto, não atendeu pessoalmente o seu telefone.

Muitos médicos angolanos estão também insatisfeitos depois de a bastonária se demarcar da marcha convocada pelo Sindicato Nacional dos Médicos (SINMEA) em homenagem a Sílvio Dala, pediatra que morreu no início de setembro na sequência de uma intervenção policial. O protesto juntou centenas de profissionais de saúde e elementos da sociedade civil na capital do país, Luanda.

Elisa Gaspar disse em entrevista à televisão pública TPA: “A Ordem solidariza-se com a família do médico, a Ordem esteve presente no velório, a Ordem está triste com a forma como a notícia da morte do médico saiu, mas manifestação contra quem!? Manifestação para homenagear o médico, sim, ele trabalhou no Hospital Pediátrico, a homenagem deve ser feita no hospital e não sair à rua e fazer o que [se] quer fazer, porque há sempre muito aproveitamento político e nós somos médicos, não nos podemos misturar com política.”

A posição da bastonária é vista com “muita tristeza” pelo presidente do SINMEA, Adriano Manuel. Por isso, considera natural a reação dos associados da Ordem dos Médicos.

O caso Sílvio Dala abalou a classe médica angolana. Em entrevista à DW África, Adriano Manuel avança que o sindicato se prepara para pedir explicações à polícia sobre o que aconteceu ao médico, através dos tribunais.

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