Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular responde às muitas questões levantadas em torno da vacina anunciada esta terça-feira pela Rússia.
Chama-se “Sputnik V”, vai começar a ser fabricada em setembro e distribuída em janeiro: são estas as informações avançadas sobre a vacina para a covid-19anunciada hoje pela Rússia, que apanhou de supresa as autoridades de saúde e a comunidade científica que pouco ou nada sabe sobre os resultados de eficácia e segurança dos ensaios clínicos.
É, portanto, legítimo que se levantem muitas questões em torno da vacina que, segundo se sabe, não chegou a entrar na fase três, onde é testada em muitas pessoas, algumas delas expostas ao vírus.
“Aquilo que é agora anunciado vai muito além do que é a prática normal do que é o desenvolvimento de uma vacina. Não temos dados da fase 3, em que são testadas muitas pessoas. Além de querermos uma vacina segura, queremos uam vacina eficaz.”, explicou Miguel Prudêncio numa entrevista à SIC Notícias.
Refere ainda que o tipo de processos envolvidos são complexos e que a vacina tem de passar por etapas obrigatórias e devem ser feitos ensaios das diferentes fases em seres humanos – designados de ensaios de fase 1, 2 e 3 – sendo que cada uma das etapas tem um propósito.
Ao contrário de outras vacinas, como é o caso da desenvolvida pela Moderna ou pela universidade de Oxford, não foi disponibilizada informação à comunidade científica.
“Em relação a essas vacinas [Oxford e Moderna] tem havido um reporte dos resultados nas várias fases à comunidade científica, através de publicações em revistas científicas. Há informação disponível para ser verificada e para ser analisada. No caso desta vacina [Rússia] não existe qualquer reporte científico, qualquer publicação científica sobre os resultados agora anunciados”, afirmou o investigador.
Miguel Prudêncio não considera plausível começar a distribuir a vacina em janeiro do próximo ano, visto que “será inevitável serem feitos ensaios de fase 3 antes de começar a ser administrada às pessoas”. Acredita que o Governo russo pode distribuir a vacina internamente, mas que não vai ser distribuída a nível mundial sem existir um aval da OMS e da comunidade científica.
A Organização Mundial de Saúde apontou seis vacinas contra a Covid-19 que estavam na frente de desenvolvimento, uma vez que se encontravam fase 3 – a fase que implica que haja um ensaio em milhares de pessoas – começou por referir o imunologista.
Henrique Veiga Fernandes considera que há cautela da OMS relativamente à vacina anunciada.Reproduzir Vídeo
FILHA DE PUTIN JÁ TOMOU VACINA
De acordo com o chefe de Estado, a vacina russa é “eficaz” e superou todas as provas necessárias assim como permite uma “imunidade estável” face ao covid-19.
A filha do presidente que tomou a vacina está bem, avançou Putin.
“Ela participou na experiência”, disse Putin, afirmando que a filha teve um pouco de febre “e foi tudo”.