Os deslocados são cada vez em maior número e chegam aos milhares a Nampula e a Niassa. Entretanto, foram abatidos 36 terroristas nos últimos dias, nos distritos de Muidumbe e Palma, ambos localizados na província de Cabo Delgado, a norte de Moçambique, avança o portal e-Global.

Desses mortos, 33 terão sido abatidos na terça-feira passada no Posto Administrativo de Pundanhar, em Palma, por elementos das Forças de Defesa e de Segurança que terão conseguido cercar o grupo que atacou aquela localidade na semana passada.
Os outros três criminosos mortos foram decapitados pela população de Muidumbe no passado fim de semana, depois de terem sido capturados na aldeia Muatide. Contudo, do grupo insurgente que atacou a aldeia, alguns conseguiram fugir.
Com o conflito sem fim à vista, são cada vez mais os deslocados que procuram paz noutras paragens. Com a crise alimentar a aproximar-se, cerca de 400 mil pessoas fugiram de suas casas e vilas, abandonando pertences e plantações, ficando totalmente dependentes de ajuda humanitária, revela um relatório do Programa Mundial Alimentar, que acrescenta que a maioria das pessoas deslocadas fugiu para as províncias de Nampula e Niassa, mas ainda há muitas pessoas na cidade de Pemba a precisar de ajuda urgente.
A diretora para África do projecto ACLED, Jasmine Opperman, alertou na quarta-feira para «o erro» do Governo de Moçambique em permitir a ocupação de Mocímboa da Praia por rebeldes, assinalando que há recrutamentos de «livre vontade».
«Um dos maiores erros que o Governo fez foi permitir que os insurgentes ocupassem Mocímboa da Praia por um longo período de tempo, porque temos vistos novos recrutas a juntarem-se, e a juntarem-se de livre vontade», disse Jasmine Opperman, do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), durante o seminário virtual «A segurança marítima pode virar a maré contra os insurgentes de Cabo Delgado», organizado pelo Instituto de Estudos de Segurança (ISS África).
A especialista assinalou que «há uma percepção» de que o recrutamento é feito através de raptos, mas que no caso de Mocímboa da Praia, vila na província de Cabo Delgado, que tem sido alvo de acções de rebeldes fundamentalistas islâmicos, «isso não é o caso».
Jasmine Opperman mostrou-se preocupada com a realização de operações de treino em território moçambicano, dadas por estrangeiros.
«Uma das informações que é muito perturbadora é que o (grupo extremista) Estado Islâmico enviou uma pessoa para Moçambique, até Cabo Delgado, para realizar treinos. É um dos aspectos mais perturbadores até agora», disse a investigadora, especialista em contraterrorismo.
Para Opperman, é necessário «entender o que se passa» e que não se ignore «o aumento súbito da sofisticação da insurgência».
A especialista sublinhou que há uma causa que «não é sobre ganância», mas sim «uma identidade sobre um sistema de crença específico para alcançar certos objectivos».
«Há combatentes que estão dispostos a morrer pela causa por que lutam, e é importante perceber isso», destacou.
Opperman disse também que está a ser criada uma «coesão interna» através da violência. «Isto (os ataques) não servem apenas para afastar os civis de Cabo Delgado, mas também para mandar uma mensagem aos novos recrutas que ‘se ousares sair, isto é o que te vai acontecer’», afirmou a especialista.
É preciso lembrar que muitos dos que são raptados são pequenos rapazes, «facilmente doutrináveis», acrescentou.
A diretora do projecto ACLED para África considerou também que a motivação dos atacantes «não é estática» e que Cabo Delgado já passou «a fase inicial de uma brutalidade indiscriminada».
Opperman apontou que «há uma completa desintegração social em Cabo Delgado», o que leva a que jovens se identifiquem com os rebeldes, e salientou não ver qualquer reconhecimento desta realidade «a nível nacional, regional, continental ou internacional».
«O Governo precisa de olhar para as suas infraestruturas de segurança, de comunicação” e “de se abrir a uma total cooperação”, defendeu.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas.
Há diferentes estimativas para o número de mortos, que vão de mil a duas mil vítimas.
Na semana passada, o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, disse no parlamento que «as acções terroristas» já provocaram 435 mil deslocados internos.
As Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas descrevem como «grave» a situação em Cabo Delgado (norte), assinalando que o porto e o aeroporto de Mocímboa da Praia continuam nas mãos dos grupos armados, refere um relatório parlamentar.
O Comando Conjunto das FDS fez a descrição da situação em Cabo Delgado num encontro com a Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade (CACDHL) da Assembleia da República (AR) de Moçambique. (In Lusa)