O absentismo marcou esta primeira semana, em maior parte das escolas da província de Luanda. No município de Viana, poucos alunos se fizeram às salas de aula. Professores também assinaram a lista de absentismo nas respectivas escolas.
Na passada segunda-feira, 05, arrancaram, oficialmente, as aulas em todos os subsistemas de ensino no país, seis meses depois do decreto presidencial que orientava a suspensão das aulas, a 24 de Março, por conta do aumento de casos de covid-19 em Angola.
Com vista a respeitar as regras de distanciamento físico e evitar o contágio pela covid-19, as turmas ficaram divididas em dois grupos. Para as turmas do período matinal, que antes entravam às 7h e saíam ao meio dia, o primeiro grupo entra às 7h e sai às 10h, para alguns minutos depois a mesma sala ser ocupada pelos alunos do segundo grupo.
No período da tarde, a troca de grupos é às 15 horas. Com o primeiro a entrar às 13h e o segundo a deixar a instituição pouco antes das 18 horas.
José Adolfo, de 16 anos estuda a 9ª classe na escola 5111 no período da noite. Disse que apesar de a sua turma estar reduzida, devido a divisão feita pela escola, a sua sala esteve muito vazia durante a primeira semana do retorno às aulas.
Vestidas de bata branca, mochila às costas e máscaras no rosto, caminhavam Sandra Timóteo e Cristina Alberto a saíam da escola. Além de colegas, as duas meninas de 11 e 12 anos vivem no mesmo bairro, da Caop B, e estudam a 9ª classe na escola preparatória, junto à delegação municipal da Educação de Viana. Logo no primeiro dia, queriam as duas ter as três disciplinas do horário escolar às segundas-feiras, mas para a sua desilusão, apareceu apenas uma professora, que tratou de recapitular as matérias e ensinar as medidas de prevenção contra a covid-19.
Eram 11 horas quando as interpelamos à saída da escola. Segundo as meninas, “a sala estava muito vazia, porque poucos colegas apareceram”, disseram, com esperança de que nos dias a seguir mais colegas apareceriam à escola.
Anderson Josué e Paula António estudam a 6ª classe na escola primária Nº 5001, Fidel Alejandro Castro Ruz, no período da tarde. O primeiro faltou às aulas na segunda-feira “porque vinha primeiro ver as listas para ver se calhei em que sala e quando cheguei em casa, até almoçar e me preparar já era tarde, por isso só vim hoje” justifica-se. Já a Paula disse que no primeiro dia de aulas na sala estavam apenas três alunos, ela incluída.
Nenhum dos entrevistados disse ter álcool em gel para higienizar as mãos ao longo da tarde. “porque o meu pai não tem possibilidade de comprar todos os dias”, respondeu o Anderson.
A senhora Ondina levava a sua filha de 11 anos a escola e disse ao Correio da Kianda que veio “para ver as condições criadas pela escola porque não posso mandar a minha filha vir sozinha e sem ver como está a escola”.
Professores pedem a presença dos alunos
Junto à administração municipal de Viana estão três escolas que partilham o mesmo espaço físico. Apesar deste factor, poucos são os alunos que se faziam presentes no pátio e nas ruas adjacentes as três escolas.
Nesta sexta-feira, enquanto no interior das salas decorriam as aulas nas 6ª classes, às 14 horas uma menina de 11 anos se encontrava sentada no pátio da Escola Fidel Castro, com a mochila ao colo. A mesma disse que não sabia que estava no segundo grupo de alunos, que têm aulas a partir das 15h, pois “só vim anteontem do Rocha onde fui passar as férias”.
Uma encarregada de educação aparecera àquela escola para inteirar-se das condições de biossegurança na escola, mas sobretudo para conhecer a nova professora do seu filho, já através deste soube que tinha uma nova professora, diferente daquela que conheceu antes da interrupção das aulas em Março, por causa da covid-19.
O professor Joaquim também estava no pátio, depois de atender a uma chamada da sua directora a interromper as suas férias iniciadas sábado último. Segundo aquele docente, alguns alunos estão a aparecer, apesar de que em número muito reduzido. “Os alunos estão a parecer tiro-a-tiro e não é isso que estávamos a espera”, lamentou o docente, desiludido.
O mesmo aconselha os encarregados de educação a mandarem seus educandos às escolas para que no final do ano não venham seus filhos reprovados.
Sobre o facto de as turmas terem sido divididas, o professor disse ser uma experiência cansativa. “Na rotina é um pouquinho cansativo, ter de ensinar uma mesma matéria duas vezes no mesmo dia, mas é um sacrifício necessário, que devemos fazer, para o bem do país”, reconheceu.
Tentativas para abordar o assunto com as autoridades da Educação no município de Viana não surtiram efeitos desejados, visto que tanto os directores de escolas, como a chefe da repartição da Educação de Viana não se mostraram disponíveis.
Fonte: Correio da Kianda