BNA deve exercitar câmbio livre face à rápida depreciação do kwanza

O economista angolano Precioso Domingos defendeu hoje que é altura de o Banco Nacional de Angola (BNA) “exercitar o câmbio livre” face ao elevado nível de depreciação que a moeda nacional vem registando em relação ao euro e dólar.

O kwanza já depreciou 17,4% face ao dólar e 21,4% face ao euro, desde o início do ano, influenciado pela menor disponibilidade de divisas no mercado cambial, afetando assim o diferencial entre as taxas de câmbio oficial e informal das principais moedas.

Numa ronda efetuada hoje pela Lusa em diferentes pontos da cidade de Luanda, a taxa de câmbio do euro, no mercado informal, variou entre os 895 kwanzas e 900 kwanzas para a compra, enquanto que para a venda o preço esteve fixo nos 910 kwanzas.

Já relativamente ao dólar, a taxa de câmbio consultada na Mutamba, São Paulo e Mártires de Kifangondo variou entre os 790 kwanzas e os 800 kwanzas para a compra e os 800 kwanzas e 810 kwanzas para a venda.

A Lusa questionou os kínguilas (vendedores de notas) sobre a razão para a alta de preços, sendo a escassez de divisas no mercado a principal justificação.

Em declarações à Lusa, Precioso Domingos disse que o BNA não tem formas, nesta altura, de estancar a situação pelas vias que sempre usou, mas em momentos diferentes do que se vive hoje.

Segundo Precioso Domingos, a intervenção do BNA sempre foi artificial, porque a natural decorre da robustez da própria economia, caso conseguisse diversificar as suas exportações.

“Como este processo de diversificação das exportações ainda não existe, então a única capacidade de o BNA controlar isso teria que ser pelo aumento da venda de dólares ou euros no mercado, mas isso nesse momento está limitado, por conta daquilo que se passa ao nível do mercado do setor petrolífero” explicou.

Precioso Domingos sublinhou que, em Angola, a pandemia de covid-19 afetou mais o setor petrolífero do que o não petrolífero, como reflete a baixa das receitas totais do Estado do orçamento inicial face ao revisto.

“A queda das receitas petrolíferas foi abrupta. Então, o BNA não tem capacidade para fazer isso. Se tentar, o que vai ocorrer é que vai deixar escapar um critério de avaliação importante, imposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), no âmbito do acordo, que é manter os níveis de reservas internacionais, na ordem dos 10 mil milhões de dólares ((8,3 mil milhões de euros) pelo menos”, referiu.

Caso o banco central venha a aumentar o ritmo da venda de divisas, observou, o que vai ocorrer “é esse nível definido escapar” levando as reservas “para níveis muito baixos”.

“Vamos viver um momento falso de estabilização cambial, mas depois o problema volta a surgir e se o problema surgir num contexto como este, em que o mercado petrolífero não deu sinais ainda de recuperação, em termos de preços e quantidades, aí vai ser pior, vamos passar por uma situação pior que essa que já estamos a viver”, considerou.

Para o economista, por enquanto, o problema está sem fim à vista, “a não ser que o preço do petróleo surpreenda. De contrário não”.

De acordo com Precioso Domingos, é difícil nesta altura o BNA distinguir a procura por moeda para fins de transação, porque as pessoas não estão a viajar e têm menos necessidade de procura da moeda.

Apesar de estarem suspensas as viagens por conta da pandemia, prosseguiu o economista, “parece que há uma procura que está a alimentar os elevadíssimos preços da moeda estrangeira, inclusive no mercado informal”.

“As pessoas continuam ainda assim a satisfazer o mercado informal, não obstante aparecerem com preços de 900 kwanzas para o euro e 800 para o dólar. Isso significa que as pessoas têm uma crença de que isto vai ser ainda pior e por isso estão a comprar dólares ou euro para entesourar”, vaticinou, indicando que o BNA “só deve deixar naturalmente o mercado fluir.

“É o momento do BNA exercitar o câmbio livre, e depois certificar-se que os bancos estão a cumprir com aquilo que têm que fazer”, disse.

Segundo a consultora Oxford Economics, o kwanza deverá depreciar-se em 2020 mais de 50% face ao valor do ano passado, o que fez a inflação subir para o nível mais alto desde dezembro de 2017.

Fonte: Lusa

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