Despedimento em massa no BPC gera revolta

Funcionários do Banco de Poupança e Crédito (BPC) de vários escalões queixam-se dos critérios de despedimentos definidos pela administração de António André Lopes, apontando “injustiças” que levam à dispensa de técnicos mais qualificados em benefício de colaboradores menos experimentados.

Renda excessiva, degradação do imóvel, falta de rentabilidade e proximidade entre centros de negócios são os quatro critérios na base da contestação de directores, gerentes, gestores e balconistas, para os quais as regras de despedimento “ignoram pura e simplesmente” o capital humano. “Há um lema que se criou aqui dentro que diz ‘no sítio errado, na hora errada’. Ou seja, o banco não teve a preocupação de definir critérios baseados no mérito dos colaboradores, preferiram simplificar pelo critério da agência”, explica o gerente de um balcão no centro de Luanda, que detalha com um exemplo. “Um subgerente com 15 anos de carreira, competente e sem um único processo disciplinar é despedido, simplesmente porque trabalha numa agência abrangida pelos critérios, quando deveria substituir um técnico menos qualificado num outro centro de negócios qualquer.” Outro funcionário (director) é sarcástico: “não sei francamente que livros de gestão andam a ler estes nossos gestores. Como é possível adoptarem regras que valorizam as agências em detrimento do capital humano?”

Fonte oficial do banco explica ao VALOR, que o redimensionamento do capital humano inclui iniciativas que vão desde as reformas por idade e tempo de serviço às reformas antecipadas, sem deixar de lado o outsourcing de processos não core e a rescisão por mútuo acordo. Inclui ainda “a rescisão por extinção de posto de trabalho, derivada do plano de encerramento de pontos de atendimento que não geram rendimentos suficientes para cobrir os seus custos operacionais”, acrescenta o banco, confirmando um dos critérios avançados por vários funcionários ao VALOR, alguns dos quais já despedidos.

Sublinhando que a sua principal missão é eliminar os “factores que exponenciam o risco de falência”, a administração do banco declara que tem estado a operar dentro dos limites da Lei da Geral de Trabalho”. E, face ao “momento difícil” da economia, desenhou um pacote de compensações e benefícios “que vai além das indemnizações previstas na Lei”. A ideia, insiste a instituição, passa por “perspectivar a reintegração no mercado de trabalho dos trabalhadores abrangidos neste processo”, atenuando os “efeitos negativos” da reestruturação do banco. “Este pacote prevê, entre outras medidas, uma compensação de mais 25% acima do previsto por Lei, formação profissional para os colaboradores, perdão de dívida de crédito até 25 milhões de kwanzas e possibilidade de acesso a um financiamento de até 10 milhões de kwanzas para início de actividade”.

Nenhum dos funcionários ouvidos pelo VALOR confirmou, entretanto, os benefícios. “Faço parte do primeiro grupo de despedidos, não sei de um único colega que tenha beneficiado de crédito e eu, particularmente, continuo com dívida no banco. Não beneficiei, portanto, até agora do perdão da dívida”, relata um gestor. “Quanto ao crédito, receio que não teremos privilégios nenhuns. Seremos tratados como quaisquer clientes, exigindo-nos garantias e colaterais”, antecipa. 

CONTESTAÇÃO CHEGA À RUA

O pacote de compensações desenhado pela administração do banco não impediu que determinados funcionários levassem a contestação às ruas de Luanda. Na última semana, ex-colaboradores, em pequenos números, exibiram cartazes, no centro da cidade, exigindo o reingresso no banco. E para quem ainda está no activo, o clima é de angústia e incerteza permanentes, já que qualquer um pode ser despedido a qualquer altura. “O processo está a ser gerido de tal maneira sigilosa que apenas a administração e o director de recursos humanos é que sabem o pessoal abrangido. Agora, vamos ao banco à segunda-feira para trabalhar e podemos sair de lá, a meio da manhã, despedidos”, ilustra um subdirector.

Filipe Makengo, presidente do Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola, coloca-se do lado dos trabalhadores e defende que não há critérios justos. “O único critério justo é não haver despedimentos”, sentencia, criticando a administração do banco por não se preocupar com os custos da sua estrutura de apoio, ao mesmo tempo que aponta alternativas. “O banco deveria negociar com os devedores e seria o suficiente para não despedir trabalhadores”, observa, insistindo que o critério adoptado é “simplesmente o mais fácil para despedimentos”.

Fonte: Valor Económico

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