Estudantes angolanos acusam Universidade Agostinho Neto de proibir homenagens a aluno morto

O líder do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) lamentou hoje o impedimento de atos de homenagem ao jovem morto quarta-feira na sequência de uma manifestação em Luanda, afirmando que a decisão da Universidade Agostinho Neto é “política”. Em declarações à Lusa, Francisco Teixeira afirma que os estudantes “estavam ávidos de realizar um minuto de silêncio (pelo seu colega) em muitas universidades”, e que o MEA informou o governo dessa intenção, na sexta-feira, para que não fossem colocadas proibições à homenagem que queriam prestar.

“Infelizmente, recebemos a informação da Universidade Agostinho Neto (UAN) proibindo todo o tipo de manifestação a favor deste ato solene de homenagem, menos na faculdade onde ele estudou”, afirmou, repudiando a decisão que diz ser “política”.

Inocêncio de Matos, o jovem que morreu em circunstâncias ainda por esclarecer era estudante do 3.º ano de Ciências da Computação da UAN. Questionado pela Lusa, o reitor da UAN, Pedro Magalhães, salientou não ter tido qualquer interação com o MEA e afirmou que os estudantes da UAN estão representados numa associação própria que já endereçou uma nota de condolências à família, tal como a universidade.

Sobre se estão autorizados atos de homenagem, o reitor respondeu que estes devem ser feitos junto da família, e não na universidade. “Não pode haver aproveitamentos. Que interesses têm essas pessoas que querem fazer outro tipo de atividades?”, questionou. Francisco Teixeira contrapôs que o reitor “está a agir sob cobertura do ministério do Ensino Superior”, considerando a decisão “política, irracional e, até certo ponto, insensível” porque “fere as normas sagradas e a cultura africana que ensina a chorar com quem chora”. Face aos impedimentos, os estudantes têm realizado homenagens a Inocêncio de Matos fora das instituições de ensino.

“O nosso movimento está expectante para saber qual a posição que o ministério ou as instituições vão tomar caso os jovens se vistam de preto ou caso realizem um minuto de silencio nas salas”, frisou. “É um desrespeito muito grande, que prova mais uma vez aquilo que temos denunciado, que as instituições não são independentes, são politizadas. Mais uma vez ficou provado que há uma mão política nessa decisão insensível num momento de luto”, criticou.

O presidente do MEA disse ainda que a posição da universidade não foi transmitida por escrito, mas foram dadas orientações verbais aos representantes dos estudantes. Os estudantes pretendiam realizar na quarta-feira um minuto de silêncio em todas as escolas do país” para homenagearem o estudante de 26 anos, Inocêncio de Matos, que morreu, na sequência de uma manifestação em Luanda na passada quarta-feira, havendo versões contraditórias sobre as causas da morte. Médicos do hospital Américo Boavida dizem que o jovem morreu devido a uma agressão com um objetivo contundente não especificado, enquanto testemunhas que acompanhavam Inocêncio de Matos, afirmam que o estudante foi baleado pela polícia e perdeu a vida no local.

A polícia nega responsabilidades na morte do jovem

Na nota endereçada na passada sexta-feira ao ministério do Ensino Superior, o MEA refere que no passado 11 de Novembro de 2020, dia que celebra a Independência em Angola “houve uma marcha contra elevado custo de vida, desemprego, autarquias locais” onde a polícia cometeu “excesso terrível” e “acabou por matar a tiro” um jovem estudante. “Com estes infaustos acontecimentos, vimos informar que o Movimento dos Estuantes Angolano, está de luto nacional, e somos a informar que os estudantes farão homenagem, em um minuto de silêncio em todas Escolas do País, pedimos encarecidamente que não proíbam este ato solene”, lê-se no documento assinado por Francisco Teixeira.

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