Trump sugeriu que pode não aceitar os resultados eleitorais e diz que está em curso uma fraude grave relacionada com os boletins de voto enviados pelo correio. O que gerou uma onda de críticas e obrigou até a uma reação do presidente do Senado, o republicano Mitch McConnell
Os Estados Unidos não são a “Coreia do Norte” ou “a Bielorrússia”, alertaram os líderes republicanos e democratas, depois de Donald Trump se recusar a garantir claramente uma transferência pacífica do poder, caso venha a perder as eleições.
O presidente do Senado, o republicano Mitch McConnell, sentiu que era necessário garantir aos eleitores norte-americanos que o vencedor da eleição de 3 de novembro tomaria posse conforme planeado, em janeiro. E escreveu no Twitter, numa advertência velada a Trump:
“O vencedor da eleição de 3 de novembro tomará posse em 20 de janeiro. Haverá uma transição ordenada, assim como tem acontecido a cada quatro anos desde 1792. “
O presidente do Comité Judiciário do Senado, Lindsey Graham, um aliado próximo de Trump e seu parceiro de golfe, disse à Fox News: “Posso garantir que será pacífica [a transição]. Agora, podemos ter litígios sobre quem ganhou a eleição, mas o tribunal [supremo] decidirá e se os republicanos perderem, aceitaremos o resultado. Mas precisamos de um tribunal” .
O FBI rejeitou a sugestão de Trump de que está em curso uma fraude grave e que consta de um aumento no número de boletins de voto enviados pelo correio.null
‘Os boletins [de voto] são um desastre’ – disse Trump na quarta-feira, sugerindo que poderá não vir a respeitar os resultados da eleição ou que poderá vir a considerar os votos pelo correio ilegítimos.
Questionado em conferência de imprensa na Casa Branca se está comprometido com a transferência pacífica do poder em caso de derrota, Trump respondeu: “Bem, vamos ter que ver o que acontece”.
Durante uma entrevista de rádio no início desta quinta-feira, Trump repetiu a afirmação de que os boletins de voto enviadas pelo correio não são de confiança, escreve a AFP.
Pressionada para comentar as declarações de Trump, a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, disse aos repórteres: “O presidente aceitará os resultados de uma eleição livre e justa“.
Hilary Clinton: “É patético. Mas devemos levar a sério a ameaça”
Outros líderes políticos foram mais agressivos.
Hillary Clinton, derrotada por Trump em 2016, tuitou: “A recusa de Trump em comprometer-se com a transferência pacífica do poder é o comportamento de um suposto ditador desesperado que se agarraria ao cargo mesmo que significasse destruir nossa democracia. É patético. Mas porque ele é o presidente, devemos levar a sério a ameaça”, escreveu, citada pelo Guardian.
“O fundamental para a democracia é a transição pacífica de poder; sem isso, há a Bielorrússia”, tuitou o senador republicano Mitt Romney.
Nancy Pelosi, a presidente democrata da Câmara, disse que era necessário lembrar Trump que “não está na Coreia do Norte, não está na Turquia, não está na Rússia, senhor presidente”.
O senador Bernie Sanders criticou Trump num discurso perante o Senado. “Sob Donald Trump, temos um presidente que tem pouco respeito pela nossa constituição ou pelo estado de Direito”, disse Sanders.
Trump, “o primeiro presidente na história deste país a recusar comprometer-se com uma transição pacífica de poder se perder as eleições”, disse ainda.
“O que ele está a dizer é que se ganhar a eleição, ótimo. Mas se perder, é fraude, porque a única maneira de vir a perder é se for uma fraude”, acrescentou Sanders.
Poderá não haver um vencedor claro, tal como no ano 2000
As autoridades eleitorais têm preocupações reais de que não haverá um vencedor claro no dia seguinte à eleição, já que milhões de boletins enviados pelo correio demoram para serem entregues nas secções eleitorais locais e depois registados.
O FBI e a inteligência dos Estados Unidos alertam que pode existir quem, dentro e fora do país, aproveite este período para divulgar notícias falsas sobre fraudes, levantando dúvidas sobre o processo eleitoral.
No entanto, na quinta-feira, o diretor do FBI, Chris Wray, disse em audiência no Senado que não tinha sido registado nenhum esforço coordenado para manipular os resultados das eleições, “seja por correio ou de outra forma”.
Ambos os partidos, assim como Trump, estão focados na possibilidade de que as contagens de votos locais e por estado acabem a ser contestadas em tribunal e que essas discussões acabem na Suprema Corte, como aconteceu na eleição, em novembro de 2000, do candidato republicano George W. Bush.
Trump disse, esta semana, que essa é uma das razões pelas quais quer nomear rapidamente um conservador para substituir Ruth Bader Ginsburg, a juíza progressista que morreu na semana passada.
Se Trump conseguir a aprovação para o juiz que indicar, os conservadores ficarão com seis das nove cadeiras do Supremo Tribunal dos EUA:.