Manuela Gomes
O cadáver do jovem que em vida era conhecido como Sebastião Menino ficou 13 horas exposto, num dos becos do Distrito do Rangel, devido, supostamente, à falta de pneu no carro de remoção da Polícia Nacional.
O jovem acabou por falecer na rua quando estava a caminho do Hospital Américo Boavida, na tarde de quinta-feira, às 17 horas. Sebastião era doente crónico de tuberculose há mais de quatro anos. Na manhã de quinta-feira passou mal e di-rigiu-se para o Hospital Américo Boavida, onde foi-lhe explicado que devia ficar de baixa médica, mas negou, alegando que não podia ficar internado sem o conhecimento dos familiares.
O jovem regressou a casa, onde, horas depois, voltou a queixar-se de dores e deu a conhecer ao irmão que prontamente decidiu levá-lo, pela segunda vez, ao Hospital Américo Boavida. A caminho do hospital, infelizmente, Sebastião Menino não resistiu e acabou por falecer na rua, num dos becos da Comissão do Rangel, entre as ruas 18 e 19.
O corpo ficou à espera da equipa médica ou dos efectivos da Polícia Nacional para a sua remoção, o que só aconteceu 13 horas depois, tal como contou, à reportagem do Jornal de Angola, Gelson da Costa, irmão do malogrado. “Quando vi o meu irmão imobilizado no chão, solicitei a uma vizinha um lençol para cobrir o corpo.
Em seguida liguei para o Comando da Polícia Nacional do Rangel, mas informou-me que não podia fazer nada, porque estava sem meio de transporte disponível, devido à falta de um pneu”, contou. Gelson da Costa explicou que horas depois os efectivos da Polícia Nacional apareceram, mas nada fizeram, apenas observaram à distância o corpo estendido no chão e de seguida deixaram o local.
“Apesar do meu irmão não ter tido boa conduta, para uma pessoa que padecia de tuberculose, porque fazia consumo regular de bebidas alcoólicas e de cigarro, não merecia ficar estendido na rua durante 13 horas, sem qualquer apoio dos serviços da Polícia ou da Saúde”, desabafou Gelson. A mãe do malogrado e outros vizinhos tiveram de pernoitar na rua, junto ao corpo de Sebastião Menino.
“Sabemos que, por causa da pandemia que o país vive, há orientações para que apenas equipas médicas manuseiem pessoas gravemente doentes ou cadáveres, então não podíamos levar o corpo para de casa ou à morgue”, reconheceu o irmão. Gelson da Costa disse que o beco onde estava o corpo do malogrado foi isolado, mas por ser um local onde regularmente circulam pessoas, não conseguiram impedir que passassem perto do cadáver.
Hora da remoção
Às 8 horas de sexta-feira (dia seguinte), os efectivos da Polícia Nacional, acompanhados pelo administrador distrital do Rangel, fizeram-se presentes o local, onde Sebastião permanecia estendido, por cima do sangue saído da boca. Antes da remoção houve uma discussão entre os efectivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e os familiares, para decidir quem ia levantar o corpo, para colocá-lo na maca. Os familiares quase foram obrigados a tirar o cadáver do chão.
“Que polícias são esses que não fazem o seu trabalho? Nós é que temos que fazer o trabalho deles? Se fosse um gatuno ou uma zungueira rapidamente apareceriam com as viaturas e prontamente agiam, é lamentável isso”, disse uma vizinha. O administrador do Distrito do Rangel, Francisco Naval, lamentou o ocorrido e, em nome da Administração, pediu desculpas e endereçou os mais profundos sentimentos de pesar à família enlutada.
“Quando tomei conhecimento da situação, procurámos contactar a quem de direito para pôr fim a esta triste situação, que durante horas tirou o sono aos moradores da área, porque não é normal termos um cadáver, em frente da nossa porta”, disse Francisco Naval.
O porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, inspector-chefe Nestor Goubel, disse, ontem, que não houve negligência na recolha tardia do cadáver. Informou que no dia do incidente a viatura de remoção de cadáveres teve que atender vários casos.