Os rituais fúnebres fazem parte dos nossos traços culturais. Em Angola, participar no funeral de um familiar, vizinho ou amigo constitui quase uma obrigação.
Com o surgimento da Covid-19 foram impostas algumas restrições. Em Luanda, o epicentro da doença no país, apenas 15 pessoas podem ir ao enterro e nas províncias 25, mas a medida muitas vezes é violada.
António Nsimba Mbiyeyi, estudante de Psicologia na Escola Superior Politécnica do Zaire, em Mbanza Kongo, província do Zaire, diz ter participado há dias no óbito de um amigo, vítima de malária e ficou estupefacto com o que viu. Pelo número de pessoas presentes parece que a Covid-19 é doença de outras galáxias. A isto junta-se o desrespeito às medidas de prevenção, como o distanciamento físico, não uso de máscara facial e falta de condições para lavagem das mãos é o cenário que descreve.
“As pessoas continuam a ir aos óbitos como se nada estivesse a acontecer, o que facilita os contágios. É preciso que a população mude a maneira de agir, para que em conjunto possamos combater a doença. Acredito que ainda não estão reunidas as condições para o tratamento da Covid-19 na região, se atingir um alto nível de propagação”, disse.
Solidariedade
Nos óbitos, as pessoas estão habituadas a dar abraços, apertos de mãos e os hábitos permanecem em muitas áreas, apesar da propagação da doença. “Estes hábitos não ajudam a travar a disseminação da pandemia do novo coronavírus, po isso, temos que nos adaptar à nova realidade”, referiu.
Suzana Matondo perdeu a avó há poucos dias. Confessa que as pessoas olhavam-na com estranheza por usar máscara facial, luvas e estar munida de frasco de álcool gel.
“Era, praticamente, a única a usar máscara facial naquele óbito, porque tenho consciência da existência da doença. Senti que fui mal interpretada pelas outras pessoas, sobretudo na hora do enterro, por ter limitado o número de pessoas na minha viatura”, disse Suzana Matondo, que defendeu a intensificação das acções de sensibilização para combater a Covid-19.