Mortes, detenções e gorjetas milionárias. Dez histórias sobre a recusa em usar máscara

Não se limitam a negar-se a usar máscara: muita gente reage com violência. E, por causa disso, um motorista de autocarro em França já morreu. Mas a história do jovem Lenin tem um final feliz, porque o feitiço se virou contra o feiticeiro.

Acena de agressões em pleno voo de Amesterdão para Ibiza é mais uma das muitas que resultam da recusa dos cidadãos em usar máscara, obrigatória em transportes públicos e espaços fechados.

Em Portugal em muitos países do mundo. Desde que a máscara se tornou obrigatória como forma de proteção contra o covid-19, muitas são as situações noticiadas – os casos de desobediência às autoridades que acabam em detenções são a maioria, mas há mesmo um desfecho dramático, a morte de um motorista de autocarro francês brutalmente agredido por tentar impedir a entrada de um passageiro sem máscara.

Mas também há casos com final feliz, como a do jovem funcionário do Starbucks injuriado por uma cliente que não gostou de ser chamada a atenção por não usar proteção e que acabou por receber uma quantia choruda em gorjetas.

Depois de alguns avanços e recuos, recorde-se, a Organização Mundial de Saúde decidiu recomendar, a 5 de junho, o uso generalizado de máscaras comunitárias, em tecido, sempre que é impossível manter a distância física. A OMS mudou a sua posição, depois da revisão de provas científicas e da consulta de especialistas.

Na passada sexta-feira, no avião da KLM que fazia a ligação entre Amesterdão e Ibiza, viveram-se momentos de grande tensão em pleno voo com autênticas cenas de pugilato: dois passageiros de origem britânica, aparentemente embriagados, recusaram colocar máscara. A atitude dos dois homens terá gerado comentários de censura por parte dos outros passageiros. Só que um deles não gostou das críticas e decidiu atacar, gerando-se uma grande confusão a bordo.

O agressor foi agarrado por outros passageiros e por membros da tripulação – as imagens gravadas mostram que está a sangrar do nariz. “Pare, há aqui crianças”, consegue-se ouvir no vídeo.

Os dois homens foram detidos pela polícia à chegada à ilha espanhola.

24 de julho: passageira expulsa de avião

Mais uma cena passada dentro de um avião, desta vez da American Airlines. A aeronave ia sair do Ohio para a Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e a protagonista foi uma mulher que recusou usar a máscara, alegando questões de saúde.

Como já vem sendo hábito, a cena foi gravada por outro passageiro e tornou-se viral nas redes sociais. Apesar do insistente argumento de que não usava proteção por indicação médica, não lhe restou outra alternativa que não sair do avião. A tripulação, que se mostrou inflexível, acabou a ser aplaudida pelos passageiros.

22 de julho: Tirou bastão a polícia e foi detido

A cena passou-se ao final da tarde na estação de comboios de Carcavelos, cerca das 19 horas. Um jovem de 25 anos estava a fumar – na plataforma é, segundo a PSP, obrigatório usar a máscara e é proibido fumar.

O homem terá sido informado por uma agente policial de que teria de pôr a máscara, caso contrário iria incorrer num crime de desobediência. Acabaria por colocar a proteção, mas deixou o nariz de fora. E voltou a ser chamado à atenção pelo polícia.

A partir daí, as coisas azedaram e o jovem terá começado a mostrar-se violento, o que levou o agente sacar do bastão. Só que o homem conseguiu tirar o bastão ao polícia e este teve que chamar reforços. O jovem tentou escapar à polícia e entrar numa carruagem.

Foi detido e incorre em crimes de resistência e coação sobre funcionário. Terá também de pagar duas multas – fumar em local proibido e desobediência em pôr a máscara.

21 de julho: juiz chama analfabeto a agente

No Brasil, já são habituais as imagens do presidente Bolsonaro sem máscara, mas esta história envolve o desembargador Eduardo Almeida Prado Rocha Siqueira, do Tribunal de Justiça de São Paulo. O juiz foi apanhado pelos guardas civis municipais de Santos sem máscara de proteção.

Decidiu e intimidar e humilhar e os agentes da autoridades quando estes lhe passavam a respetiva multa por não usar a máscara obrigatória em Santos desde 23 de abril.

Conselho Nacional de Justiça (CNJ) disse pode perder o cargo se o caso seguir para a justiça.

Mas entretanto, o desembargador já veio dizer que está arrependido e pediu desculpas por ter chamado “analfabeto” ao guarda municipal Cícero Hilário Roza Neto, 36 anos, além de ter rasgado e atirado para o chão uma multa pelo desrespeito ao uso obrigatório de máscara na praia de Santos.

20 de julho: arma de choque em Copacabana

O cenário é praia de Copacabana e os protagonistas um agente da Guarda Municipal do Rio de Janeiro que terá insultado o agente e não quis identificar-se. Estava a usar a proteção de forma incorreta.

Num vídeo que circula nas redes sociais, o homem resiste à abordagem policial e um dos agentes usa a arma de choque. Vê-se o homem a cair na areia, sendo depois imobilizado e levado para o carro da polícia.

20 de julho: Motorista da Carris agredido

Queria entrar no autocarro sem máscara e foi chamado à atenção pelo motorista da Carris. O jovem de 22 anos não terá gostado do que ouviu e, segundo a PSP, “partiu de forma violenta para agressão física, atingindo-o na cara com vários socos, empunhando de seguida uma arma branca com a qual ameaçou os presentes, colocando-se em fuga de imediato”.

Os acontecimentos tiveram lugar cerca das 18 horas, na Estrada de Benfica. Pouco depois, foi detido e algemado – a arma utilizada nas ameaças foi apreendida na posse de um outro homem.

O condutor ficou com “hematomas visíveis em toda a face, com os lábios cortados e as mãos arranhadas, além do polo da farda destruído”, adiantou a PSP.

16 de julho: Ia à PSP queixar-se e ficou detido

Não deixa de ser irónico: um cidadão do Algarve deslocou-se às instalações da PSP para fazer queixa do excesso de ruído junto à sua casa, mas acabou detido por se recusar a usar máscara.

O homem, de 36 anos, negou-se a utilizar a proteção individual, máscara ou viseira, ao entrar nas instalações do Comando da PSP de Faro, mesmo depois de ter isso alertado para o facto. Agora incorre no crime de injúrias e desobediência e pagamento de multa.

11 de julho: Motorista morreu após agressões

A 5 de julho, Philippe Monguillot, condutor de um autocarro em Bayonne, pediu a quatro passageiros que cumprissem as regras obrigatórias para poderem usar os transportes públicos em França. A reação dos homens foi inesperada: espancaram-no brutalmente, ao ponto de o motorista de 59 anos ficar em morte cerebral – viria a morrer no dia 11 porque a família decidiu desligar as máquinas já que nada havia a fazer por Philippe.

Autocarros de Bayonne pararam em solidariedade com a morte do motorista.
Autocarros de Bayonne pararam em solidariedade com a morte do motorista.

A notícia da morte foi dada pela filha de 18 anos, que acrescentou que a decisão família teve o apoio da equipa médica. .

“Houve insultos e depois empurrões. O motorista foi empurrado para fora do autocarro. Violentamente, dois indivíduos deram-lhe pontapés e socos na parte superior do corpo, incluindo a cabeça“, explicou o procurador assistente Marc Marieele, em conferência de imprensa, referindo-se a um ataque “extremamente violento”.

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, disse que Philippe Monguillot foi “covardemente atacado” e garantiu que a justiça “irá castigar os autores deste crime desprezível”.

Quando foi anunciada a morte do motorista, estavam detidos dois jovens de 22 e 23 anos, suspeitos do ataque.

7 de julho: discoteca apaga luz e fecha portas

A “Sala Central”, uma discoteca do centro de Pamplona, decidiu voluntariamente encerrar as portas porque os clientes não estavam a cumprir as medidas de segurança sanitárias, nomeadamente o uso de máscaras.

A discoteca espanhola divulgou algumas imagens de clientes sem máscara e sem cumprir o distanciamento, classificando-as de “imagens infelizes.

O estabelecimento fez, contudo, questão de garantir que estava a cumprir “rigorosamente” todas as medidas de segurança exigidas – e garante, aliás, que o espaço abriu com 25% da capacidade, embora tenha permissão de até 75%.

Os ponteiros do relógio marcavam a 1 da manhã quando o proprietário da discoteca decidiu apagar as luzes – já antes tinha alertado para a obrigatoriedade do uso das máscaras. Mas nem uma coisa nem outro chamou os clientes à razão. Foi então com o proprietário decidiu chamar a polícia que evacuaram a discoteca

29 de junho: as gorjetas para o funcionário do Starbucks

É uma daquelas situações em que o feitiço se vira contra o feiticeiro. Amber Lynn Gilles decidiu partilhar o vídeo do momento em que Lenin Gutierrez, funcionário do Starbucks de San Diego, Califórnia, EUA, recusou atendê-la porque não usava máscara. Mas se estava à espera de apoios, enganou-se. O que aconteceu foi o inverso do que pretendia: o jovem foi altamente elogiado e Amber criticada.

Mais: foi criada uma página online de angariação de fundos que resultou em “gorjetas” no valor de 100 mil dólares (cerca de 85 mil euros) para Lenin que vai prosseguir o sonho de ser dançarino.

A foto de Lenin que a cliente do Starbucks publicou nas redes sociais.
A foto de Lenin que a cliente do Starbucks publicou nas redes sociais.

Agora, Amber quer que o dinheiro seja repartido entre os dois e já anunciou que está a ponderar abrir um processo para receber a sua metade. Alega que não usava máscara por razões de saúde e que foi discriminada, pelo que não compreende a razão pela qual a opinião pública se colocou do lado do jovem.

“”Fico com falta de ar, tonturas e isso altera o meu batimento cardíaco”, afirmou à Fox, justificando que tem asma e que isso a impede de usar a proteção. “Sinto que me exigem um pedido de desculpas., mas eu é que fui discriminada, eu é que sou doente.”

Lenin Gutierrez já decidiu onde vai investir o dinheiro que recebeu – na dança, que é o seu grande sonho. Para já, dá aulas a crianças que espera serem tão inspiradas pela dança como ele.

13 de maio: Segurança de supermercado fica com o braço partido

A cena já aconteceu há mais de dois meses mas continua a ser relevante porque a recusa em usar máscara num supermercado resultou num braço partido de um dos funcionários.

A cena de violência passou-se em Los Angeles, nos EUA. As imagens de videovigilância mostram dois homens os dois homens que se recusaram a colocar a máscara a agredir o funcionário.

Os dois clientes foram convidados a sair da loja por não estarem a usar máscara, sendo encaminhados por três seguranças até à saída. “De repente, um suspeito, de repente, sem ser provocado, virou-se e deu um soco num funcionário da loja, fazendo os dois caírem no chão”, afirma a polícia de Los Angeles em comunicado, acrescentado que, enquanto estava no chão, o segurança partiu o braço esquerdo, fratura resultante da cena de pancadaria que se seguiu.

Os dois homens, de 29 e 31 anos, foram detidos e aguardam julgamento. Em Los Angeles é obrigatório usar mascará em estabelecimentos comerciais desde o dia 10 de abril, como medida de combate ao novo coronavírus.

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