PR rende homenagem a Kundi Paihama
O Presidente da República, João Lourenço, afirmou, hoje, em Luanda, que o país perdeu um dos seus melhores filhos, com o desaparecimento físico do general Kundi Paihama, que dedicou toda a sua vida às causas da liberdade e do progresso social de Angola.
O reconhecimento consta do livro de condolências assinado, ontem, pelo Chefe de Estado, acompanhado da Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, durante a cerimónia das exéquias, no Comando do Exército.
Na mensagem, João Lourenço destacou as inúmeras qualidades do antigo ministro da Defesa Nacional. “Kundi Paihama era fiel aos ideais e princípios pelos quais acreditava e lutava, destemido perante os perigos e desafios da luta, humilde, popular e falante de várias línguas nacionais, qualidades que o distinguiam”.
O Chefe de Estado acrescentou: “nesta hora de despedida, gostaríamos de realizar uma grandiosa homenagem à dimensão da sua trajectória e do seu contributo prestado ao país, mas lamentavelmente estamos limitados pelas circunstâncias do momento crítico que o mundo atravessa”.
Realçou que milhares são os colegas, companheiros de armas e amigos, dentro e fora do país, que gostariam de estar presentes para o último adeus mas, infelizmente, esta é a homenagem possível.
No livro de condolências, o Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, rendeu honras e glórias a Kundi Paihama.
O presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, descreveu o também deputado, que suspendeu o mandato por motivos de doença, como um “patriota de convicções profundas, lutou com muita coragem e determinação pela liberdade, paz e reconciliação nacional”.
Em declarações à imprensa, o líder parlamentar sublinhou que “Angola perdeu um companheiro de luta, amigo sempre presente e solidário”.
O chefe do Estado Maior-General das FAA, Egídio de Sousa e Santos, lembrou que esteve com Kundi Paihama muitas vezes nos tempos mais difíceis da guerra, no Cunene. “Combatemos juntos numa época em que ele era ministro da Segurança do Estado e o (Pedro) Mutindi governador da província, e eu comissário da 5ª região militar. Na época, recebemos ordens para cuidar do Presidente Sam Nujoma até à Independência da Namíbia”.
A vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, considerou Kundi Paihama uma figura incontornável da História do país e intrépido dirigente que sabia cumprir, muito bem, as missões que lhe eram confiadas. “Vai servir de inspiração às novas gerações, pela sua forma de ser”, sublinhou.
O embaixador da Namíbia, Patrick Nandago, recordou Paihama como um grande combatente. Para Esther Armenteros, embaixadora de Cuba, “Kundi Paihama foi companheiro de armas, amigo e camarada e viverá para sempre nos corações dos angolanos e cubanos”.
Dino Matrosse fala em “amizade muito forte”
Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, deputado e antigo secretário-geral do MPLA, disse ao Jornal de Angola que conheceu Kundi Paihama depois da Independência.
“Conheci o camarada Kundi Paihama enquanto governador do Cunene e criamos uma amizade muito forte. Nos chamávamos chefe amigo um ao outro”, lembrou.
Para “Dino Matrosse”, os 75 anos de idade não justificam a sua morte, mas sim, o envenenamento que foi alvo, associado às diabetes, terão acelerado a sua morte e deixa o legado de bravura, tenacidade e um verdadeiro combatente da linha da frente.
Para Mário Pinto de Andrade, entre as várias memórias o destaque recai para a célebre frase “vamos fazer guerra para acabar com a guerra”. Por outro, depois dos acordos de Bicesse, lembrou, foi o general Kundi Paihama que recebeu o líder da UNITA, Jonas Savimbi, em Luanda, enquanto governador da província.
O ex-secretário de Estado da Comunicação Social Celso Malovoloke disse que, enquanto funcionário sénior das Nações Unidas, acompanhou a intervenção do general Kundi Paihama, ao negociar a abertura de corredores humanitários para o reabastecimento da população civil nas zonas sob o controlo da UNITA. “Na altura já defendia que a população não podia sofrer mais por causa da guerra e, enquanto governador e comandante, sentia-se na obrigação de fazer alguma coisa para ajudar o povo”, lembrou.
O general Eusébio de Brito Teixeira, ex-governador do Cuanza-Sul, lembra de ter sido apoiado por Kundi Paihama, depois de uma intervenção militar na fronteira com a vizinha República da Zâmbia.
Contou que, na altura, as tropas da UNITA faziam acções na zona do Rivungo e Xangongo. Depois das investidas, recuavam para a Zâmbia e houve uma necessidade de desactivar esta unidade. “Enquanto comandante decidi fazer uma intervenção, ao ponto de atravessar o rio Cuando, o que gerou conflito com a Zâmbia e ficou esclarecido que o limite fronteiriço com Angola ia até 13 quilómetros depois das margens do Rio Cuando.”
TRISTEZA
Filhos prometem manter a unidade da família
Bastante desconsolado, Epadoca Paihama, o quarto filho do general Kundi Paihama, que decidiu seguir a veia militar do pai, não deu muitos pormenores sobre o seu percurso no Estado Maior General do Exército.
Em breves declarações ao Jornal de Angola, Epadoca Paihama prometeu colocar em prática todos os ensinamentos que recebeu do pai, com realce para a lealdade à Pátria, amor ao próximo e a necessidade de manter a família unida.
Aproveitou, igualmente, a oportunidade para agradecer a todos que se juntaram à dor da família neste momento difícil.
Epadoca Paihama conta ter conversado com o pai no dia 18 e dois dias depois recebeu a comunicação sobre o seu internamento numa clínica, para quatro dias depois ter partido para a eternidade.
Herculana Paihama, visivelmente abatida com a partida do pai, disse que a família é extensa e que tudo fará para a manter unida.
A última filha de Kundi Paihama, Ludmira Paihama, disse regozijar-se pelo facto de o pai ter sido considerado “bravo combatente” desde os primórdios da luta de libertação nacional pela Independência.
“Em casa era um amor de pessoa. O velho tratava-nos bem, sem qualquer distinção. Fui a que mais tempo esteve ao seu lado, talvez por ser a caçulinha”, desabafou.
Ludmira Paihama disse que o pai não tinha preferências em termos de música, e que o cão “Boby”, seu animal de estimação preferido, não pára de ladrar desde o falecimento do dono. “Parece-me que deu conta que o seu dono faleceu”, afirmou.
Nascido na província da Huíla, a 12 de Dezembro de 1944, Kundi Paihama morreu na madrugada de sexta-feira, numa das unidades hospitalares de Luanda, vítima de doença.
Foi ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria (2010), da Defesa Nacional (2003), da Inserção e Controlo do Estado (1986), da Segurança do Estado (1980), do Interior (1979). Foi, igualmente, governador das províncias do Cunene, Huíla, Huambo, Benguela e Luanda.
KUNDI PAIHAMA
Muquipungos rendem última homenagem
Os “Muquingos”, referência habitual aos nativos do município de Quipungo, a 120 quilómetros do Lubango, rendem, amanhã, a última homenagem ao general Kundi Paihama, na qualidade de figura emblemática e querida na região.
Os restos mortais chegaram hoje ao Lubango e foram colocados no ginásio da Universidade Mandume, para permitir que os lubanguenses e não só prestem a última homenagem. De seguida rumam à terra natal, onde são sepultados amanhã, às 14h30.
Estão previstas a leitura de mensagens do Presidente da República, presidente da Assembleia Nacional, do MPLA, Ministério da Defesa Nacional, da família, das Forças Armadas e do governador da Huíla.
O sobrinho do malogrado, padre Jonas Pacheco, descreveu o actual momento como de “tremendo choque”, pelas responsabilidades de Kundi Paihama para com a Pátria e familiares.
O pároco da Sé Catedral agradeceu as autoridades, em especial o Presidente da República, João Lourenço, por permitirem que o desejo do malogrado de ser sepultado na terra natal, ao lado dos progenitores, fosse cumprido.
O historiador José Ndambuca recorda, com nostalgia, a convivência com o malogrado, em Quipungo, Lubango e Cunene, em épocas de intenso conflito armado, invasão sul-africana e conquista da paz.
“Kundi Paihama foi um exímio e destacado combatente que não media esforços quando estava em causa a integridade física da população, sobretudo das zonas rurais ou desprotegidas”, afirmou.
O general reformado José Chiloya, um dos companheiros de batalha, afirmou que “o país perde um dos valorosos combatentes que se destacou em todas as guerras, a começar na luta pela conquista da Independência, da paz, da reconciliação e reconstrução nacional”.
Para José Tchiloya, o mais difícil e complicado foi enfrentar os invasores sul-africanos por, na altura, serem aliados das FALA, ex-forças da UNITA. “As dificuldades que a tropa enfrentava no terreno, devido à escassez de meios bélicos, não constituíram entrave para Paihama, tendo mobilizado jovens para a defesa do território nacional”.
Destacou a iniciativa da criação do batalhão “Onças da Montanha”, cuja eficiência e táctica surpreenderam as forças inimigas, impondo respeito e protegendo vários bens públicos. Isso fez com que as zonas tidas como inseguras passassem a ser temidas e respeitadas.
Estanislau Costa|Lubango