Dez meses depois de visitar a sede comunal do Dombe Grande, no município da Baía Farta, para o lançamento do ano agrícola 2019/2020, em Benguela, o governador Rui Falcão voltou, há dias, ao mesmo cenário, e deparou-se com um conjunto de situações que marcam o dia a dia das famílias camponesas que trabalham a terra ao longo do vale do rio Coporolo, e dos pequenos e médios agro-industriais.
Todos os anos, a natureza revela-se impiedosa com o Dombe Grande. As inundações são uma constante. As populações ficam isoladas em autênticas ilhas artificiais e os campos agrícolas arrasados praticamente em toda a extensão territorial da comuna, tudo porque os diques de protecção, construídos no período colonial, romperam, e ainda não foram reparados.
Na localidade, Rui Falcão viu, ouviu e entendeu que a principal acção para debelar o problema das constantes inundações e erosão dos solos agricultáveis passa pela regularização do leito do rio Coporolo. Com efeito, reconheceu não ser tarefa fácil porque “o país enfrenta dificuldades”.
“Há obras de engenharia e um caderno de prioridades dessas mesmas construções. Mas nós vamos fazer aquilo que nos compete, no sentido de sensibilizar os órgãos centrais, para a urgência que há na recuperação das infra-estruturas do rio Coporolo”, disse.
Em Fevereiro do ano em curso, o Jornal de Angola esteve no Dombe Grande, localidade que dista cerca de 62 quilómetros a sul da cidade de Benguela, tendo verificado que a não regularização e desassoreamento do leito do rio Coporolo é um problema real que está na base da permanente erosão das terras aráveis, contribuindo para o desalojamento das comunidades agrícolas, com maior incidência nas localidades de Cahungurulo, Hengue, Canto e Luacho.
Marcos Jorge, um membro influente da comissão de gestão da antiga Açucareira “4 de Fevereiro”, alerta que os diques de protecção erguidos no período colonial, na margem esquerda do rio Coporolo, ficaram destruídos, em Dezembro de 2019, com a força das águas.
Segundo Marcos Jorge, a erosão tem estado a contribuir para uma diminuição acelerada da área útil anteriormente disponível. “A primeira ruptura dos diques de protecção ocorreu, em 1996, quando choveu à cântaros. A sede da comuna do Dombe Grande ficou inundada de tal forma que não gostaria de ver repetidas vezes, mas isso pode voltar a acontecer. A vila está permanentemente ameaçada”, disse.
A bacia hidrográfica do Coporolo, que compreende dez mil hectares de terras cultiváveis, a par dos rios Balombo, Cubal da Hanha, Catumbela e Cavaco, completa o potencial da província de Benguela. Ao todo, perfaz cerca de um milhão de hectares de terras favoráveis à prática da actividade agro-pecuária.
Os agro-industriais, com forte intervenção na comuna do Dombe Grande, pretendem que o Estado intervenha de forma significativa e reforce as políticas do sector agrícola, para mitigar os problemas resultantes das intempéries cíclicas, e outros factores negativos que prejudicam a promoção do desenvolvimento da agricultura, em condições mais seguras.