Desde o começo do ano, os agricultores da província de Benguela apostam na produção de ananás, banana e outros frutos, um indicador de que, mesmo em período de recessão, o sector da Agricultura quer continuar a “mexer-se” e nesta nova fase já é notório um novo “verde” só nos 3.317 hectares de terras agricultáveis do Perímetro Agrário da Catumbela.
Há anos que a produção frutícola é das principais actividades do agronegócio benguelense, sobretudo nos solos férteis dos vales irrigados da Canjala, Hanha do Norte, Cavaco, Catumbela e Dombe Grande, onde mais de 106 fazendas apostam, cada uma no seu “habitat”, em variedades de frutas, com números que já chegam a impressionar, dado o curto tempo de produção.
Hoje, a produção de variedades de frutas chega a atingir mais de 200 mil toneladas por ano, graças à resiliência dos 106 produtores espalhados por dez municípios de Benguela, cuja actividade já ajudou a gerar renda para várias centenas de famílias camponesas. Com uma safra anual de 120 mil toneladas, o ananás é, na actualidade, das principais apostas nos municípios do Norte da província, nomeadamente Balombo e Bocoio.
Considerada o “ouro verde” do centro de Benguela, a produção de banana atinge 52 mil toneladas por ano. Já a manga, uma das grandes referências de todo o Planalto Central, ganha espaço no Sul, concretamente no Dombe Grande, com uma produção de 25 mil toneladas exportáveis.
Por sua vez, a papaia e o maracujá também figuram do mapa da fruticultura que vem ganhando corpo em Benguela, nos últimos meses, com uma produção anual de 212 e 98 toneladas por ano, respectivamente.
Na base dessa grande “transformação” do sector, fortemente afectado pela crise petrolífera de 2014, está o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI), que, segundo as autoridades locais, está a criar um mercado cada vez mais aliciante.
O agrónomo Gabriel Martinho, que lidera o Departamento Provincial da Agricultura, disse que Benguela regista novos tempos na produção de frutas, com a implementação deste programa. No seu entender, trata-se de um segmento fundamental para a economia local, sendo que, nos últimos meses, o consumo interno aumentou de forma significativa.
“Isso estimula as vendas e, ao mesmo tempo, a expansão das áreas de produção de Norte a Sul da província”, expressou Gabriel Martinho, para quem a medida do Governo de reduzir a importação de bens produzidos em boas quantidades no país, é alavanca para a produção interna e massiva de frutas.
Do campo, ora do Cavaco, ora do Kawango, onde a produção agrícola começa a ganhar força, embora sem a mesma “pujança” do passado, as frutas de Benguela são sujeitas a um rigoroso processo de selecção, antes de seguirem para o mercado informal.
As frutas saem do campo para a mesa do consumidor pelas mãos das revendedoras, que não medem esforços, quando em causa estiver a sobrevivência e a distribuição de produtos que, aos poucos, inundam o mercado de Benguela.
Luanda, Lubango e as províncias do Leste, nomeadamente as Lundas Norte e Sul, são os principais destinos da vasta diversidade da fruta “made in Benguela”.
250 hectares à espera
Duzentos e cinquenta hectares, dos 3.317 agricultáveis do perímetro da Catumbela, ainda esperam por investidores, para se intensificar a produção de horto-frutícolas e cereais. O agrónomo Raimundo Mussili, na gestão interina do Gabinete de Aproveitamento Hidro-Agrícola dos Vales do Cavaco e da Catumbela, garante que nem todas as terras estão a ser exploradas, devido à proximidade do mar e a um fenómeno conhecido por “sombreamento”.
A Catumbela possui mais de 32 hectares de mangueiras, que, em alguns casos, atrofia o crescimento das culturas de cereais e hortícolas. Segundo Raimundo Mussili, as residências e unidades fabris construídas na margem do Rio Catumbela estão na base da perda de 112 hectares desse perímetro. Por isso, explicou, o assoreamento de 35 quilómetros de drenos principais condiciona o aproveitamento de outros 120 hectares, sobretudo na comuna da Praia do Bebé.
Além de frutas, destaca que os 6.320 camponeses ao lado de 20 agricultores, apostam na diversificação das culturas, tendo como bandeira a produção de milho numa área de 520 hectares, da banana em 193 hectares e de hortícolas em 539 hectares.
Actualmente, os cerca de 2.500 hectares de área cultivada no Vale do Cavaco – rio intermitente que atravessa a cidade de Benguela – oferecem muita diversidade de culturas, com destaque para a banana, muito praticada na região desde o período colonial.
Dos 667 hectares de plantações de bananeiras que no passado a província controlava, 13,5 por cento correspondiam ao Vale do Cavaco, englobando 145 explorações das empresas existentes.
* Jornalista da ANGOP
Fazenda gera resultados em 3 meses
Por exemplo, a Fazenda Hermalina Lda, do empreendedor Henrique Miguel, 39 anos, já vive os efeitos desta nova era da produção de frutas em Benguela. Implantada em Maio deste ano, com a ajuda da esposa, Angelina Nguinamao, a fazenda, de 12 hectares, já gerou 45 empregos, entre os quais tractoristas, guardas e cozinheiros.
Até ao momento, sete hectares foram preenchidos só com melancia e dois com melão. O pepino, pimento e a beterraba completam as iniciativas do produtor. Segundo Henrique Miguel, nesse curto espaço de tempo a Fazenda Hermalina já colheu cerca de 25 toneladas de melancia em apenas três hectares, enquanto a safra nos dois hectares de melão, estimada em cinco toneladas, continua em curso.
Em apenas três meses, o empreendedor explica que foram investidos mais de sete milhões de kwanzas do “próprio bolso”, apenas para dar corpo ao negócio. “Preferimos investir aqui” e “desde Maio os investimentos foram aplicados no sistema de rega, na aquisição de adubos e combustíveis para o tractor desbravar terras e no pagamento dos salários dos trabalhadores”.
Além de adubo composto NPK (12-24-12) e ureia, o ingressado produtor de frutas está a introduzir fertilizantes orgânicos, a fim de colher frutas com melhor sabor.
Jovem abandona construção civil
Carlos Pinheiro, 44 anos, abandonou o mundo da camionagem e a anterior vocação da família –a construção civil – para arrendar 17,5 hectares, numa fazenda antes subaproveitada no Vale do Cavaco.
Desde 2017, foram investidos cerca de 30 milhões de kwanzas num espaço agora conhecido por “BP – AGRO”. Além dos nove mil pés de plantas de bananais híbridas importadas, Carlos Pinheiro comprou electro-bombas, geradores de energia a gasóleo, sistemas de rega gota-a-gota e vedou o espaço.
“Começámos com 30 toneladas e passámos para 40, mas houve uma época em que tirei 50 toneladas”, narrou Carlos Pinheiro, que dispõe de uma área de 12,5 hectares de banana devidamente arruada, com 10 hectares já prontos para mais uma safra.O empreendedor perspectiva colher 10 toneladas de banana, fruto dos sete mil pés lançados à terra, com a ajuda de 23 trabalhadores.
Como nem tudo no Cavaco é um “mar de rosas”, Carlos Pinheiro queixa-se da falta de energia eléctrica e do encarecimento dos custos de produção. Isto, porque os geradores estão caríssimos para os agricultores, se bem que indispensáveis para que a rega por goteamento funcione, com electro-bombas.
Venda muda vida de mulheres
Na província de Benguela quase ninguém fica indiferente ao sacrifício de dezenas de mulheres que se posicionam, diariamente, sentadas ou deitadas no chão, debaixo de sol abrasador.
Avelina Nolongolo é uma das “heroínas anónimas”, que corre, a cada manhã, para comercializar nas ruas da cidade de Benguela. A cidadã fugiu das dificuldades no Bairro da Graça e começou a vender fruta, quando tinha apenas 17 anos de idade.
Hoje, com 22 anos, diz respirar de alívio, porque embora as vendas tenham baixado, já consegue alimentar a família com os proventos do negócio. Sem bancada para vender, reclama do facto de os fiscais da Administração Municipal de Benguela estarem sempre “em pé de guerra” com as zungueiras, dificultando as vendas.
De segunda a sexta-feira, Antónia Margarida, 38 anos, apanha o táxi na Catumbela e segue para Benguela. A DT-AGRO é o destino final. Antes de entrar no negócio de frutas, no Lobito, Margarida recorda que chegou a vender petróleo em garrafas e cana-de-açúcar.
Desde que descobriu uma fonte de renda com a fruta, como laranja, maçã, tangerina, pêra, banana e mamão, diz que tudo mudou e até conseguiu construir uma casa na zona Alta do Bairro São Pedro, na Catumbela, que, infelizmente, desabou com a chuva, em 2019.