Eric Danboy Bagale, antigo guarda do presidente deposto da República Centro-Africana, é acusado de atos de tortura e associação criminosa para preparação de crime de guerra.
França prendeu e indiciou um antigo guarda do presidente deposto da República Centro-Africana, François Bozizé, por “cumplicidade em crimes contra a humanidade”, afirmou este sábado (19.09) a Procuradoria Nacional Anti-Terrorista (PNAT).
Eric Danboy Bagale, 41 anos, foi detido na terça-feira no leste de França e colocado sob investigação judicial em Paris na sexta-feira, disseram os procuradores à agência de notícias France Presse.
Bagale, que serviu na guarda presidencial e depois como líder da milícia anti-Balaka, foi também acusado de “atos de tortura” e de “associação criminosa para a preparação de um crime de guerra” por atos cometidos entre 2007 e 2014, disse a PNAT, em comunicado.
A justiça francesa aceitou este caso sob uma jurisdição universal que lhe permite processar suspeitos de crimes de guerra ou de crimes contra a humanidade se estes passarem por ou residirem em território francês. Em 2019, cerca de 150 processos judiciais foram conduzidos por esta unidade especializada do tribunal de Paris, relativos a abusos cometidos no Ruanda, República Democrática do Congo, Síria, Iraque e Líbia.POLÍTICA | 30.04.2020
RCA: “Mudança constitucional é um empreendimento delicado”
De “Libertador” a anti-Balaka
Bagale, detido em Besancon pelo Gabinete Central de Luta contra os Crimes Contra a Humanidade, Genocídios e Crimes de Guerra, foi um dos “Libertadores”, o nome dado aos guardas de Bozizé que o levaram ao poder em 2003 ao derrubar o presidente Ange-Felix Patasse.
Membro do grupo étnico Gbaya, como Bozizé, Bagale tornou-se então uma figura de topo no seio da milícia cristã anti-Balaka, criada para combater os Seleka, grupo armado rival, maioritariamente muçulmano, que expulsou Bozizé do poder em 2013.
Os combates entre as duas facções e os numerosos massacres levados a cabo por ambas as partes mergulharam a RCA, um dos países mais pobres de África, na terceira guerra civil da sua história. Segundo a ONU, que acusou ambos os lados de crimes de guerra, entre 3.000 e 6.000 pessoas morreram, na sua maioria civis, entre 2013 e 2015.