Sengbe Pieh, um agricultor e comerciante da Serra Leoa, foi capturado para ser vendido como escravo em 1839. Durante a viagem para o chamado “Mundo Novo”, Sengbe Pieh liderou um motim a bordo do navio “La Amistad”.
Nascimento: Não é conhecida a data exata do nascimento de Sengbe Pieh, mas muitos historiadores apontam para que tenha acontecido por volta de 1814, no território que é hoje a Serra Leoa. Acredita-se que tenha nascido na ilha Bonthe, famosa pela pesca e agricultura, e que se tornou, mais tarde, num agricultor de arroz. Na altura em que foi capturado, Pieh era casado e tinha duas filhas e um filho.
De que grupo étnico era Sengbe Pieh?
Embora se diga que ele pertencesse à tribo Mende, um dos maiores grupos étnicos da Serra Leoa, alguns historiadores argumentam que ele era, de facto, Sherbro. A Ilha Bonthe, também conhecida como Ilha Sherbro, foi habitada pela primeira vez pelo povo Sherbro, um dos grupos étnicos minoritários da Serra Leoa. Os Mende instalaram-se mais tarde na ilha. Devido aos casamentos entre si, a maioria dos Sherbros consideram-se agora Mende. Nessa altura, era quase impossível distinguir entre Mende e Sherbro na Serra Leoa.
Qual é a história por detrás da revolta no “Amistad”?
Em janeiro de 1839, enquanto trabalhava no seu cultivo de arroz, Sengbe Pieh foi capturado e vendido a comerciantes de escravos espanhóis em Sulima, no sul da Serra Leoa. Pieh, assim como muitos outros escravos serra-leoneses, foi então transportado à força para Havana, em Cuba, onde foi vendido em leilão.
De lá, já sob as ordens dos seus novos donos, partiu a bordo do navio “La Amistad” para as plantações de açúcar onde iria trabalhar. Foi durante esta viagem que Sengbe Pieh conseguiu rebentar a sua corrente e libertar os companheiros. Armaram-se com facas de cana que Pieh havia encontrado no barco e deram início a uma revolta em alto mar. Mataram o capitão do navio e o cozinheiro e ordenaram ao aspirante a capitão que os levasse de volta à Serra Leoa. No entanto, e como não tinham grandes conhecimentos de navegação, foram enganados pelo novo capitão, que voltou a colocar o barco na direção de Cuba. Durante a viagem, uma tempestade empurrou a embarcação para a costa norte-americana. Já nos Estados Unidos, Pieh e os seus colegas que restavam – alguns morreram durante a revolta e a viagem – foram detidos e acusados de homicídio e pirataria.
Mas um grupo anti-escravatura, que mais tarde passou a ser conhecido como “Comité Amistad”, conseguiu defender os seus casos e Pieh e os seus companheiros foram libertados. O Comité conseguiu ainda angariar dinheiro suficiente para a viagem de regresso a casa destes africanos, que aconteceu em janeiro de 1842. Com eles viajaram também alguns missionários dos Estados Unidos.
O que tem esta história a ver com o fim da escravatura nos Estados Unidos?
A história de Sengbe Pieh inspirou fortemente o movimento abolicionista que fez campanha pelo fim da escravatura nos Estados Unidos da América. Nenhum livro de história sobre a escravatura nos Estados Unidos está completo se não falar de Sengbe Pieh. A sua história é ensinada em algumas universidades e alguns Estados norte-americanos têm estátuas em sua homenagem. Hollywood, por exemplo, produziu um filme baseado na história de vida de Pieh.
Faleceu: em 1879. Mas muito pouco se sabe sobre o que aconteceu e se estaria junto da sua família. Acredita-se que Sengbe Pieh foi enterrado num santuário em Bonthe. Ele era membro da sociedade Poro, uma sociedade tradicional secreta e, como tal, o seu túmulo só pode ser acedido pelos membros desta mesma sociedade. Por isso, o Ministério do Turismo está a planear exumar e voltar a enterrar os restos mortais de Sengbe Pieh noutro local, para que o público possa ter acesso à sepultura.
Reconhecido por: acreditar que todos os homens são iguais, independentemente da raça ou da cor. Lutou pela sua liberdade e pela liberdade dos outros.
Legado: O rosto de Sengbe Pieh é um dos que consta nas notas da Serra Leoa. Recentemente, também uma ponte na capital Freetown recebeu o seu nome. É fácil encontrar retratos seus nas ruas da capital da Serra Leoa.
Em entrevista à DW África, Joe A.D. Alie, historiador da Universidade da Serra Leoa, lembra que o ato de bravura de Sengbe Pieh é anterior aos debates sobre a Carta dos Direitos Humanos ou às Nações Unidas. “Sengbe Pieh e os seus companheiros começaram isto há muito, muito tempo. Muito antes das pessoas começarem a falar de direitos humanos, dos males da escravatura e do direito à auto-emancipação. Este é um dos seus legados mais importantes”, explica.
Segundo os quadros ainda existentes, Pieh era um homem alto, bonito e bem constituído. Tinha, portanto, o físico procurado pelos donos de escravos. Mas quis o destino que ele nunca chegasse a pôr um pé numa plantação como escravo.
Pieh morreu em 1879 e, apesar do seu impacto histórico e do seu legado, o lugar de descanso de Pieh ainda é motivo de controvérsia, pois não é possível visitar a sua sepultura. Segundo o historiador Joe Alie, “acredita-se que ele tenha sido enterrado na mata de Poro, em Bonthe, um lugar isolado. Foram feitos alguns esforços para localizar o local exato onde foi sepultado.”
No entanto, o presidente da câmara de Bonthe, Layemi Joe Sandi, diz que o governo está agora a tentar valorizar a sua memória como um meio de contar a história da escravatura.”Estamos a planear, em conjunto com o Ministério do Turismo, ter um retrato de Sengbe Pieh em Bonthe.”
O legado de Sengbe Pieh continua presente. Na escola, as crianças aprendem sobre quem foi este serra leonês, cujo retrato consta numa das notas do país. Recentemente, uma ponte na capital Freetown foi baptizada com o seu nome.