Violentas explosões abalaram Beirute e arrasaram quarteirões

Duas explosões na capital do Líbano sentidas em várias zonas da cidade. Desconhecem-se número de feridos e mortos. Explosões surge a dias de ser conhecida, na sexta-feira, a sentença no julgamento dos suspeitos do assassínio do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, em 2005.

uas fortes explosões abalaram esta terça-feira a zona do porto da capital do Líbano, Beirute, causando dezenas de feridos, segundo uma fonte da segurança e correspondentes da agência France-Presse no local.

A agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP) indicou que uma forte explosão ocorrida em Beirute feriu várias pessoas e causou danos generalizados.

Segundo a AP, a explosão ocorrida hoje à tarde partiu janelas a quilómetros de distância. Algumas emissoras de televisão locais indicaram que a explosão ocorreu no porto de Beirute, numa área onde estava armazenado fogo de artifício.

São visíveis nuvens de fumo laranja sobre a cidade e os media locais já transmitiram imagens de pessoas presas em escombros, algumas cobertas de sangue, segundo a AFP.

Um repórter fotográfico da AP viu pessoas feridas no chão perto do porto de Beirute e destruição generalizadas no centro da cidade.

A zona do porto foi fechada pelas forças de segurança, que apenas deixam passar a defesa civil, ambulâncias e viaturas dos bombeiros.

As circunstâncias e pormenores da explosão continuam a ser desconhecidos, indicou a AFP, cujos correspondentes viram habitantes feridos a deslocarem-se para hospitais, assim como viaturas abandonadas nas ruas, com os airbags inflados.

As explosões surgem dias antes de ser conhecida a sentença dos suspeitos do assassínio do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri. Hariri foi morto a 14 de fevereiro de 2005.

Um tribunal apoiado pela ONU divulga nesta sexta-feira o seu veredicto no julgamento contra quatro homens acusados de terem participado do assassinato de Hariri em 2005, uma etapa fundamental num longo e caro processo no qual os suspeitos continuam em liberdade.

Os réus, todos membros do movimento xiita do Hezbollah, estão a ser julgados à revelia pelo Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede em Haia, encarregado de ditar a sentença 15 anos após o atentado com um carro-bomba, no centro de Beirute. Nele, morreram o bilionário sunita e outras 21 pessoas.

O grande atentado contra Hariri é para muitos libaneses o equivalente ao assassinato de Kennedy para os americanos: todos lembram o que estavam a fazer naquele fatídico dia 14 de fevereiro.

O bilionário sunita, que encarnava a era da reconstrução após a guerra civil (1975-1990), morreu na explosão de uma caminhonete-bomba à passagem da sua comitiva blindada.

 explosão provocou uma bola de fogo no centro de Beirute. As chamas alcançaram vários metros de altura e as janelas de prédios nos arredores quebraram nm raio de meio quilómetro.

O homem-bomba ao volante da caminhonete branca carregada com duas toneladas de explosivos estacionou estrategicamente para esperar a comitiva, que havia acabado de sair do Parlamento e seguia para a residência de Hariri.

Às 12h55, o detonador foi ativado, um segundo após a passagem do terceiro veículo, um Mercedes S600 conduzido pelo próprio Rafic Hariri.
Muitas pessoas pensaram ser um terremoto. Beirute inteira ouviu ou sentiu a explosão, que deixou uma cratera de 10 metros de diâmetro e dois metros de profundidade.

As notícias não demoraram a chegar. O ex-primeiro ministro, que se juntou à oposição em 2004, estava entre os 22 mortos. Os guarda-costas também morreram. O estrago foi de tal magnitude que levou 17 dias para que o corpo de uma das vítimas fosse encontrado e 226 pessoas ficaram feridas.

Dia em Beirute começou com confrontos entre manifestantes

Os cortes de energia no Líbano, cada vez mais frequentes num país mergulhado numa crise económica, levaram esta terça-feira a confrontos entre manifestantes, que tentaram tomar de assalto o Ministério da Energia libanês, e a polícia antimotim.

O racionamento da energia elétrica dura há décadas no Líbano, onde o setor da eletricidade constitui o símbolo da má administração dos serviços públicos e da corrupção de que a classe política é acusada.

No entanto, desde junho, os cortes de energia tornaram-se ainda mais frequentes e com maior amplitude, pois chegaram a atingir 20 horas por dia, sobretudo em dias de calor tórrido.

Esta terça-feira, um grupo de manifestantes conseguiu romper o cordão de segurança em torno da sede do Ministério da Energia e acampou brevemente no pátio externo, segundo testemunhou a agência noticiosa France-Presse (AFP).

Outros manifestantes foram impedidos pelas forças antimotim, alguns deles atingidos com bastões. Logo depois, vários manifestantes, irados, cortaram brevemente a estrada que leva ao ministério.

“A vossa presença vai mergulhar o Líbano na obscuridade”, insistiu um porta-voz dos manifestantes, apelando ainda à demissão do ministro da Energia.

“Estamos aqui porque este é o primeiro ninho de corrupção”, disse à AFP um manifestante, assegurando que a “solução” da crise passa pela “partida do conjunto” da classe dirigente.

Pouco depois do início da tarde, apenas um número reduzido de manifestantes permanecia diante do ministério.

Face aos cortes de energia elétrica que duram desde a guerra civil libanesa (1975/90), os habitantes viraram-se para geradores privados.

O setor da energia, nomeadamente a empresa pública Eletricidade do Líbano (EDL), tem sido objeto de muitas suspeitas de corrupção e constitui um buraco financeiro para o Estado, que, segundo a AFP, já custou 40.000 milhões de dólares (cerca de 34.000 milhões de euros) ao Tesouro.

O Líbano está classificado entre os 42 Estados mais corruptos do mundo, segundo a organização não-governamental Transparência Internacional (TI).

Após vários planos de reforma previstos para o setor energético apresentados depois da guerra civil, as medidas nunca foram aplicadas.

A reforma da EDL constitui uma das principais reivindicações das instituições internacionais e dos países doadores para ajudar o Líbano sair de uma crise económica sem precedentes, marcada por uma depreciação inédita da moeda e que lançou mais de metade da população na pobreza.

Segundo um relatório da consultora internacional McKinsey, o Líbano tem a quarta pior rede elétrica do mundo.

em atualização

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